Teimosia que Não se Cura

Por Ailton Cunha

A terceira idade é um território fascinante. Nele moram histórias, lembranças… e uma teimosia que não se rende nem sob tortura. E não me refiro àquela teimosia charmosa que arranca um sorriso — falo da teimosia que, muitas vezes, vira obstáculo.

Começa nas consultas médicas. O pessoal já chega avisando:

— Doutor, só estou aqui porque minha filha me incomodou muito.

O médico explica, orienta, receita. Mas eles voltam para casa certos de que “sempre foi assim, e nunca me fez mal”. A receita vai para a gaveta, junto com as outras que também “não precisavam”.

Na tecnologia, o enredo se repete. Não é só dificuldade — é resistência mesmo. Perguntam, recebem explicação e… continuam fazendo do jeito antigo.

— É muito botão, muita senha, muito código. Prefiro pagar na boca do caixa.

E pronto. Modernidade rejeitada com selo oficial de “não me serve”.

Nos relacionamentos, então, nem se fale. Muitos carregam certezas inabaláveis sobre amor, casamento, criação de filhos e vizinhança. “No meu tempo era assim” vira justificativa para tudo, como se o tempo fosse um carimbo que dispensa qualquer revisão de pensamento.

O problema é que essa teimosia, que parece apenas inocente, pode custar caro. Custa saúde, quando recusam exames preventivos. Custa segurança, quando desprezam novos cuidados. Custa até a boa convivência, quando se fecham para ouvir ou compreender o outro.

É claro que a experiência merece respeito — mas respeito não é licença para ignorar. O mundo mudou. E, embora nem tudo moderno seja bom, muita coisa nova salva vidas, protege, aproxima. Resistir por resistência é como fechar as janelas da casa num dia de sol só porque “sempre foi assim no inverno”.

Teimosia pode ser charme. Mas, quando se transforma em barreira, deixa de ser sabedoria e passa a ser… apenas teimosia.

E essa, infelizmente, não há idade que cure.