Ser visto ou existir?

Não tenho nada contra a Internet. Pelo contrário, creio ser este um grande alicerce para a evolução humana. Mas, no mundo virtual propiciado por ela e que passou a tomar conta das nossas vidas nessas talvez duas décadas, formou-se e ganhou extrema força a existência de uma subjetividade narcisista, onde cada vez mais, é importante ser visto, notado, percebido.

Para os novos moldes, existir é ser visto. Se você não é visto, você não existe. É como se a nossa vida real, o sentir e o respirar não fossem mais suficientes para que sejamos felizes. Formou-se uma consciência coletiva que a exposição da imagem, das atividades diárias e até de situações mais íntimas devem e precisam ser vistas pelo mundo. Se não for assim, parece que a nossa existência não está completa. Já não mais importa o número de amigos reais que temos à nossa volta, mas sim o número de seguidores nas nossas redes sociais. Essa escravidão está mudando o comportamento das pessoas, tornando-as cegas para o cotidiano real das nossas casas, das ruas das nossas cidades e voltando-nos para um mundo virtual onde não somos e não seremos exatamente aquilo que mostramos.

Essa percepção é preocupante.

Por que não voltarmos a sentir prazer em coisas simples como trocar de roupa e sentir-nos bem sozinhos, sem precisar de fotos e exposição? Acordar cedo, abrir a janela, ouvir os pássaros certamente será mais prazeroso do que já ligar o celular para ter a famigerada atualização do perfil. Arrumar e dar cara nova àquela gaveta te fará bem, te dará prazer. Ficar em silêncio, fechar os olhos, ouvir o seu coração; perceber a vida, será uma sensação indescritível.

Que possamos perceber que, ao invés de termos uma vida imaginária nas redes, é imensamente melhor vivermos uma plenitude real. Erga a cabeça e saia às ruas. Sim, existe vida lá fora.