Quando a Vida Desacelera: O Milagre que Existe na Espera
- Ailton Cunha
- há 2 dias
- 3 min de leitura
Em meio à correria do mundo moderno, há momentos em que tudo parece parar. Um silêncio interno toma conta, e a sensação de estagnação invade. Mas, para alguns, esse tempo de pausa pode se revelar como um período de aprendizado e transformação.
Uma pausa que parece só sua
Tem dias em que a vida parece desacelerar de um jeito estranho. As horas continuam correndo nos relógios, os carros seguem seus caminhos apressados, as pessoas falam, sorriem, produzem… mas dentro da gente, tudo parece parado. É como se o tempo tivesse apertado o botão de “pausa” só pra mim.
As respostas que espero não chegam. Os sonhos que carrego parecem distantes. As portas que estavam entreabertas agora estão trancadas por dentro. E, nessas horas, até a oração parece ecoar no vazio. Eu me pergunto: “Será que o céu me ouve mesmo?” ou “Será que Deus me esqueceu aqui?”
A lembrança que mudou tudo
Foi nesse tempo de silêncio que me veio uma lembrança antiga…
Lá no início da minha jornada profissional, comecei como cartazista de supermercado. Um trabalho simples, mas que exige muito mais do que tinta e papel. E foi ali que conheci alguém que mudaria minha forma de enxergar o tempo: o cartazista do supermercado, que passou a ser meu colega de profissão.
Ele era experiente, sereno, paciente. Enquanto eu queria fazer tudo rápido, mostrar serviço, destacar meu talento, ele olhava meus primeiros rabiscos e dizia com um meio sorriso:
"Calma, garoto... o traço firme vem com o tempo. Primeiro você aprende o contorno, depois vem a firmeza. Primeiro entende o ritmo, depois cria o estilo."
Na época, essas palavras pareciam só sobre letras e pincéis. Hoje, eu entendo: ele falava da vida.
Lições além dos cartazes
Enquanto eu borrava cartazes querendo chegar no resultado final, ele sabia que cada traço malfeito fazia parte do aprendizado. Que não existe excelência sem constância. Que pressa e profundidade raramente andam juntas.
O tempo passou. Aquele jovem cartazista apressado se transformou. Troquei o pincel pelo computador, os cartazes pelas campanhas, as bancadas da loja pela sala de aula. E com muito esforço, noites de estudo e dias de incertezas, alcancei alguns sonhos antigos e quase esquecidos: entrei para faculdade e me formei em Marketing e técnico em transações imobiliárias, escrevi dois livros, sou colunista nesta revista; e a vida continua com novos capítulos por vir...
Esperas que preparam
Hoje, com diploma na parede e planos nas mãos, eu entendo que tudo o que parecia atraso… na verdade era preparação. Cada espera me ensinou a persistir. Cada “não” me empurrou para o caminho certo. Cada silêncio de Deus foi, na verdade, um cuidado dEle — me protegendo de coisas que eu ainda não estava pronto para viver.
Hoje, eu trabalho com o que amo. Crio ideias, penso em estratégias, procuro tocar corações com minhas mensagens nesta coluna semanal. Mas, no fundo, sigo desenhando como antigamente…
Só que agora, meus traços não são mais de pincel. São de propósito.
O valor da espera
Se você está vivendo esse tempo parado, onde parece que nada acontece… respira. Talvez você esteja exatamente onde Deus quer te moldar. Talvez Ele esteja firmando seus traços, treinando sua mão, fortalecendo sua fé.
Porque, quando o milagre chegar — e ele vai chegar — você vai olhar pra trás e perceber: Foi na espera que Ele me ensinou a confiar. Foi no silêncio que Ele me ensinou a ouvir. Foi no invisível que Ele construiu o melhor que estava por vir.
Vale a pena esperar. Sempre vale.
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