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Edição 12 – Leatherface: O horror que nasceu no Texas

  • Foto do escritor: Tilara Neutzling
    Tilara Neutzling
  • há 3 horas
  • 3 min de leitura

COLUNA: SEXTAS DO CRIME, EDIÇÃO ESPECIAL DE HALLOWEEN


Por Tilara Neutzling, Psicóloga Pós-graduada em Investigação Forense e Perícia Criminal


Leatherface é o nome que ficou marcado na história do cinema como sinônimo de terror extremo e brutalidade. Ele nasceu no interior do Texas, em um contexto de extrema pobreza e negligência familiar, onde o que deveria proteger tornou-se instrumento de opressão. Cresceu dentro de uma família desestruturada, conhecida como os Sawyer, marcada por regras rígidas e violência física constante. Desde cedo, a vida lhe ensinou que obedecer era sobreviver, que o medo devia ser internalizado e que os limites da moral eram definidos por aqueles que tinham mais força.


O personagem é construído em torno da ideia de que a brutalidade pode se tornar rotina quando não há limites afetivos ou sociais. Leatherface não é apenas um assassino; ele é produto de um ambiente que distorceu o instinto de proteção em violência e crueldade. Suas vítimas eram escolhidas de forma quase aleatória: viajantes, jovens e desavisados que passavam próximos à propriedade dos Sawyer. A casa da família, um espaço doméstico, tornava-se palco de tortura, carnificina e canibalismo. Ele usava uma serra elétrica como arma principal e máscaras feitas com pele humana para ocultar sua identidade e assumir diferentes personalidades, como se cada rosto representasse uma função dentro do caos familiar.


O modus operandi de Leatherface é profundamente ligado à sua criação. Ele não planeja no sentido racional; segue ordens e imita padrões aprendidos. Mata para obedecer, para manter o controle de seu mundo fragmentado e para sobreviver dentro de uma dinâmica familiar disfuncional. A violência é ritualística, quase mecânica, e as máscaras que veste simbolizam a despersonalização e a perda de identidade. Ele é ao mesmo tempo vítima e agressor, incapaz de distinguir certo de errado, guiado pelo medo e pela necessidade de pertencer.

Do ponto de vista criminológico, Leatherface representa um caso extremo de alienação social e despersonalização. Seu comportamento exibe traços de transtorno de personalidade dependente e esquizoide, além de sinais de agressividade reativa e impulsiva. A obediência cega à família, a ausência de planejamento racional e a dificuldade em processar emoções complexas tornam-no um exemplo de criminoso moldado pelo ambiente, mais do que pelo impulso individual de maldade. A violência, neste caso, é uma extensão da vida que lhe foi imposta, uma reprodução de padrões tóxicos que aprendeu a aceitar como norma.


A psicologia de Leatherface revela o que ocorre quando o indivíduo é completamente absorvido por uma dinâmica familiar destrutiva. Ele internaliza o medo e o abuso, transferindo-os para o mundo exterior de forma letal. As máscaras, a serra elétrica, o silêncio e os rituais de tortura funcionam como mecanismos de defesa e expressão: ele não é apenas um assassino, mas a materialização do trauma que recebeu e jamais conseguiu processar. Cada ato de violência é simultaneamente punição e sobrevivência, uma manifestação extrema de dor transformada em horror físico.


O impacto cultural do personagem vai além do entretenimento. Ele personifica o medo do abandono, do isolamento social e do colapso da família como espaço de segurança. A brutalidade de Leatherface nos lembra que a violência não nasce apenas da maldade intrínseca, mas de condições que destroem a humanidade de um indivíduo, transformando-o em instrumento de destruição. É um alerta de que, sob certas circunstâncias, a linha entre vítima e algoz pode se confundir de forma assustadora.


O terror de Leatherface não se limita ao sangue ou à carnificina; ele reside na distorção daquilo que chamamos de normalidade. Cada ação, cada máscara, cada vítima é um reflexo de um indivíduo cujo mundo se restringe a obedecer, reproduzir e sobreviver dentro do caos familiar. O horror verdadeiro surge quando percebemos que a brutalidade não é um ato isolado, mas a materialização de anos de abandono, medo e desumanização.


Leatherface nos força a encarar a possibilidade de que monstros podem existir não por escolha, mas porque foram moldados para isso, lembrando que a linha entre humanidade e animalidade pode ser mais tênue do que imaginamos.

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