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Rodrigo Seefeldt

UM QUINTAL DIFERENTE (UMA CRÔNICA DE INFÂNCIA SOBRE FINADOS)



Como toda criança eu sempre imaginava que teria um quintal para as minhas brincadeiras e aventuras com os amigos. E já me preparava em pensamento para ter talvez alguns animais de estimação. Nasci e passei toda minha infância na zona rural, talvez algo corriqueiro fosse às brincadeiras inventadas, com pedras, gravetos e uma imaginação inigualável de criança.


Ao passar dos anos e crescendo, ainda morando na zona rural, em uma pequena propriedade, onde residíamos numa residência de poucos cômodos e um fogão a lenha sempre acesso. Fui me integrando aos ditos afazeres do campo, ajudando na criação de galinhas, porcos, vacas, cortando lenha, colhendo frutas, capinando e limpando pátio.

Mesclando na ajuda dos afazeres e com a lição escolar, a pressa tomava conta de mim, para me reunir com vizinhos e irmos brincar no nosso quintal, um tanto diferente, para algumas pessoas.


O quintal era visto como um local assustador, que trazia lembranças tristes e muito utilizado em cenas para estórias de lobisomem e aterrorizantes. Mas nós, crianças estávamos apenas preocupados em desbravar aventuras e passávamos tardes divertidas brincando em nosso quintal.

O divertimento apenas era interrompido em dias em que os ciclos da vida se encerravam para algum adulto, então a pedido da minha querida avó, as brincadeiras eram suspensas e o silêncio tomava conta daquelas bandas por alguns dias em sinal de respeito.

Os dias de sol e principalmente as férias escolares eram aguardadas ansiosamente, e tinham programação especial, como jogar bola, taco, andar de bicicleta, futebol de mesa e por fim os campeonatos intermináveis de bola de gude em nosso quintal favorito.

O quintal poderia até receber um nome, mas em consideração aos entes queridos de muitas pessoas, sempre respeitamos esse espaço, que era uma espécie de anexo ao pátio de nossa residência na zona rural.


Isso mesmo, ao lado e repito, ao lado de nossa casa, cerca de 20 metros, o nosso vizinho era um cemitério. Nesse cenário um tanto diferente e peculiar que fez parte de minha infância e juventude, digamos que acabamos por nos acostumar, respeitar e cuidar desse espaço que abriga inúmeras memórias afetivas de tantas pessoas.

Como pequenas crianças, jogávamos bola de gude no cemitério, buscando entre seus corredores um espaço amplo para os nossos campeonatos. Nosso mundo era aquele momento, sem pensar quem estava ali sepultado, sua profissão ou até mesmo sua vocação, tínhamos apenas a consciência, através dos ensinamentos de minha avó, que as famílias sentiam saudades de quem partiu, mas ainda não entendíamos o que era a morte.


Não posso afirmar que sempre fomos corretos, pois principalmente na época de finados, acabávamos por dividir as flores de quem tinham muitas com aqueles que não tinham nada. Talvez nesse momento ainda criança, passei a entender o que era a linda palavra solidariedade, através do meu quintal, um pouco diferente.




- Esse texto integra a 20º Antologia do Centro de Escritores Lourencianos - CEL



Rodrigo Seefeldt é condutor local do Caminho Pomerano em São Lourenço do Sul, bacharel em Desenvolvimento Rural e atua no fomento dos aspectos históricos e culturais. Através destes temas, despertou para a literatura histórica e resgate da imigração Pomerana e Alemã no sul do Brasil. Ao ingressar no CEL – Centro de Escritores Lourencianos, deu início ao aperfeiçoamento da escrita criativa e descobriu a paixão por viajar através destas histórias.







Rodrigo Seefeldt

Condutor Local Caminho Pomerano

Bacharel em Desenvolvimento Rural -UFRGS















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