
O último final de semana foi de eleições em todo o Brasil. Em vários municípios, a disputa foi acirrada pelo cargo máximo do executivo e em São Lourenço do Sul não foi diferente. A Yaih entrevistou Zelmute Marten, prefeito eleito de São Lourenço do Sul, para saber a expectativa dele para os próximos quatro anos.
Yaih: Zelmute, sua vitória veio com uma margem apertada. Como pretende unir a cidade após uma eleição tão acirrada e garantir que todas as vozes, incluindo as que não votaram em você, sejam ouvidas?
Zelmute Marten: Bem, o nosso objetivo nós deixamos muito claro durante a pré-campanha e durante a campanha eleitoral. (Nosso objetivo) é recuperar um ambiente que eu chamo de “coesão social” no nosso município. Porque, no meu entendimento, São Lourenço do Sul é um município que tem muito mais potenciais do que problemas e, o principal potencial que nós temos, são os vínculos comunitários. Temos uma relação de qualidade, um povo honrado, um povo trabalhador que está insatisfeito com o momento que nós vivemos e está disposto a colaborar em soluções para enfrentar os problemas que são muito graves do ponto de vista das finanças públicas, da infraestrutura rural, da infraestrutura urbana e da qualidade do serviço. Portanto, a nossa ideia está estruturada em torno da concepção de união e de reconstrução do município. O trabalho que estamos estruturando, eu e a professora Fernanda Bork, está centrado na ideia de recuperar o diálogo, a capacidade de escuta e a capacidade da administração municipal em construir projetos e iniciativas com a nossa população. Nós apresentamos, no programa de governo, a ideia de um Marco Legal das Parcerias Público-comunitárias, onde queremos voltar a planejar com os distritos no interior, recuperar a importância dos Conselhos Municipais, dos Conselhos Locais de Saúde, recuperar o Orçamento Participativo e recuperar um processo de diálogo permanente com o conjunto da população. Estabelecendo assim uma dinâmica de maior qualidade com os vereadores e as vereadoras eleitos. O meu propósito, e da professora Fernanda Bork, é oferecer um primeiro encontro de trabalho para as vereadoras e vereadores eleitos ainda no mês de outubro, para apresentar o nosso diagnóstico sobre a situação real do município e estabelecer com eles um planejamento de longo prazo para que possamos realizar esforços conjuntos para encontrar soluções para os graves problemas que estamos vivenciando. Isto para que eles também possam colaborar conosco nos seus vínculos com Deputados Estaduais, Deputados Federais e Senadores de todas as legendas, de todos os partidos políticos. Para que nós possamos, desta forma, dar visibilidade para todas as pessoas que desejarem colaborar com soluções para os grandes desafios de São Lourenço do Sul, e, assim, estruturar um planejamento de médio e longo prazo com essas lideranças para que os seus esforços sejam todos retribuídos com divulgação das suas iniciativas. E eu, desde o dia da eleição, tenho sempre cumprimentado muito os candidatos Mahmoud Amer, Dari Pagel, Adrean Peglow e Rodrigo Uarth pela sua atuação na eleição municipal. Mas, acima de tudo, eu tenho cumprimentado muito os eleitores deles, transmitindo para a nossa comunidade a mensagem de que nós precisamos, passada a eleição municipal, estabelecer uma agenda de trabalho para que ela (a comunidade) supere a fragmentação dos partidos políticos, que ela supere a polarização que o nosso país ainda vive.
Y: Como você vê o futuro da política com a polarização que ocorreu nestas eleições municipais e que pôde ser vista nas eleições em todo Brasil?
ZM: A política vive uma crise estrutural no nosso país. Os partidos políticos vivem uma crise interna muito relevante. Os eleitos precisam estabelecer conexões de coerência entre os seus programas, seus propósitos e a suas atitudes práticas no convívio com a população. O que nós temos no nosso país, especialmente no Congresso Nacional, é uma marca de atuação muito baseada em proselitismos políticos e na estruturação de feudos regionais – que são quase que como oligarquias familiares regionais, que permanecem no poder por décadas e décadas. (E isso continuou) mesmo durante o período da Ditadura Militar, e no período da abertura política, com o fim da Ditadura Militar. Isso causa uma frustração na população brasileira em relação aos seus representantes, fazendo com que a cada eleição, o índice da abstenção dos votos, dos nulos e brancos cresça de maneira substancial. Então, na minha análise, os eleitos, os partidos e as organizações da sociedade civil, precisam entender que a política é um espaço onde se tomam as decisões relevantes que impactam na vida de todas as pessoas. A sociedade precisa participar da política ao invés de ter preconceito com ela. O preconceito com a política e a ideia de que na política está tudo que não presta ajuda os eleitos que não querem ser fiscalizados a permanecerem numa zona de conforto. Portanto, é imprescindível transparência, a participação das pessoas, (isso faz) com que o funcionamento da administração pública seja melhor. A transparência nos contratos garante vínculos de confiança entre a população e as administrações, seja no âmbito municipal, estadual ou federal. Este é o grande desafio das sociedades democráticas. Estamos numa fase da nossa vida em sociedade onde muitas pessoas têm se pautado pelo comportamento do ódio, da intolerância, da agressão, da falta de civilidade. Nós precisamos recuperar os estamentos democráticos, as instâncias democráticas, para que, dessa maneira, a população possa ter as suas expectativas e os seus objetivos alcançados de maneira mais rápida. A democracia é o único sistema que é capaz de produzir oportunidades especialmente para os mais pobres, para aqueles que mais precisam da esfera pública.
Y: Ter a Fernanda Bork ao seu lado, primeira mulher eleita vice-prefeita, é um marco para São Lourenço do Sul. Como você acha que isso pode impactar positivamente na gestão? Você acha que isso pode fazer com que o protagonismo das mulheres na política cresça em São Lourenço do Sul?
ZM: A professora Fernanda Bork será uma presença estrutural. Eu tenho convicção profunda que, a presença da professora Fernanda Bork no comando do poder Executivo Municipal de São Lourenço do Sul, ao meu lado, vai permitir que as mulheres lourencianas do interior e da cidade tenham um estímulo maior para participar dos processos democráticos que nós vamos instituir. (Também) na implementação de todas as políticas públicas que nós propusemos no nosso Programa de Governo, que foi vitorioso nessa eleição municipal. Eu tenho a convicção de que, o olhar feminino, que o foco das mulheres, que o cuidado das mulheres com todas as questões relacionadas à sua vida – profissional e familiar – será muito importante na condução da administração municipal de São Lourenço do Sul. Tenho estimulado, ao lado da professora Fernanda Bork, que a partir de 1º de janeiro de 2025, São Lourenço do Sul tenha dois prefeitos. Porque eu e a professora Fernanda Bork seremos dois trabalhadores, e vamos caminhar lado a lado, ombro a ombro, para fazer com que São Lourenço do Sul recupere uma relação de construção qualificada com a sua comunidade do interior e da cidade. Para que possamos juntos encontrar as soluções para os grandes desafios do nosso município.
Y: Como você pretende melhorar a educação em São Lourenço do Sul, principalmente o ensino básico, onde houve uma queda no IDEB nos últimos anos? Como pretendem inserir a tecnologia junto a educação?
ZM: O índice da educação do ensino básico em São Lourenço do Sul obteve a maior nota da história do nosso município – está nos relatórios do Ministério Público Estadual – no período que a professora Fernanda Bork foi Secretária Municipal de Educação. O momento da sociedade mundial é de cada vez maior valorização da presença das mulheres em todos os espaços da sociedade. Então, na minha visão, a professora Fernanda Bork deverá agregar as funções de vice-prefeita e de Secretária Municipal de Educação. Ela deverá, junto comigo, junto ao Conselho Municipal de Educação e junto com toda a nossa comunidade, coordenar a atualização do nosso Plano Municipal de Educação e a valorização do nosso Conselho Municipal de Educação. Devemos estabelecer uma parceria com o Ministério da Educação. Devemos qualificar as nossas estruturas escolares, (a estrutura) dos nossos prédios. Devemos construir canchas de esportes nas nossas escolas. Ela (professora Fernanda Bork) vai conduzir um processo de formação continuada para as nossas professoras e os nossos professores. Nós vamos, a partir do reequilíbrio das contas públicas, voltar a pagar o Piso do Magistério – que é um compromisso que nós assumimos durante a campanha. Assim como, vamos recuperar gradativamente a remuneração do conjunto de Servidores Públicos Municipais. E nós vamos estabelecer, a partir da construção do novo Campus da FURG, através do ministro Paulo Teixeira, Ministro do Desenvolvimento Agrário do Brasil, uma parceria com o Governo Alemão. Para que o Governo Alemão invista os recursos para a construção dos laboratórios e da infraestrutura para o acesso ao novo Campus da FURG. A partir da consolidação do novo Campus da FURG, e da instalação de uma unidade do IFSUL no Campus – conjugando o ensino superior e o ensino técnico – uma aproximação com a Finep, que é a financiadora da inovação no Brasil. Nós já realizamos uma qualificada reunião de trabalho no Sindicato Rural com a Finep antes da Campanha Eleitoral. A Finep tem uma previsão para entre 2023 e 2026 investir no Brasil 66 bilhões de reais em projetos de inovação, ciência e tecnologia, na parceria entre empresas e universidades, ou empresas e Institutos Federais de Educação, ou agricultores, agro-indústrias e agronegócios com Universidades e Institutos Federais de Educação para produzir inovação. (Também) novas patentes, para que o Brasil possa construir uma nova industrialização a partir de eixos estratégicos, como a produção de alimentos saudáveis, fontes renováveis de geração de energia limpa, e a fabricação de equipamentos médicos hospitalares para o Sistema Único de Saúde (SUS). Tudo isso numa lógica de substituição de importação por produção nacional. Então, dessa maneira, nós vamos buscar fazer com que a nossa oferta educacional de ensino básico, de ensino fundamental, de ensino médio, de ensino técnico e de ensino superior possa conversar com os setores produtivos que nós já temos instalados no nosso município e, também, novos setores que nós possamos vir a agregar a economia de São Lourenço do Sul a partir de uma estratégia de atração de novos investimentos.
Y: A mobilidade é um grande problema em São Lourenço do Sul. A Yaih quer saber, quais serão as primeiras ações para melhorar a mobilidade na zona urbana e rural?
ZM: Eu preparo, ainda para outubro de 2024, uma primeira agenda de trabalho em Brasília e no Rio de Janeiro. Em Brasília, nós vamos tratar com os diversos Ministérios. (Vamos tratar) diversos problemas de São Lourenço do Sul, de diversas áreas: saúde, infraestrutura, prevenção aos eventos climáticos extremos, turismo, conclusão do Centro de Convenções, entre outras questões. Vamos tratar (também) com o Governo Federal a questão do transporte coletivo. O transporte coletivo é um problema nacional, onde já há um elevado nível de consenso de que os governos local, estadual e nacional precisam entrar com aportes para viabilizar o transporte coletivo das populações. Nós temos em São Lourenço do Sul, no tema da mobilidade, a necessidade de repensar o nosso transporte coletivo. Nós temos a necessidade de atualizar o nosso Plano Municipal de Mobilidade Urbana para que possamos definir com a população quais alterações vamos promover no trânsito e quais obras vamos precisar fazer em relação às nossas vias de maior circulação. Vamos incorporar neste contexto também as questões relacionadas a mobilidade elétrica e à inovação, para que o transporte possa ser planejado, e com isso ocorra a diminuição da emissão de dióxido de carbono. Porque, no meu sentimento, no meu plano, na minha convicção sobre os grandes potenciais de São Lourenço do Sul, está a possibilidade de nós transformarmos São Lourenço do Sul em um município de economia verde a partir dos potenciais naturais que nós temos. Também, a partir das características rurais e urbanas, da existência de uma produção de alimentos de base agroecológica e da existência do Campus da FURG, com os cursos de Agroecologia, de Educação no Campo, de Gestão de Cooperativas. Nós temos muitas possibilidades para enfrentarmos este grande desafio global que são as mudanças climáticas e os eventos climáticos extremos, buscando atrair oportunidades para São Lourenço do Sul, investimentos de prevenção, de mitigação e adaptação. Recebo um pouco de crítica por usar esses termos, mas eles são muito simples, porque adaptação é a gente planejar o nosso futuro, nos adaptando à seca, à enchente, aos vendavais e aos raios que serão cada vez mais recorrentes. Claro que, existem pessoas que estão tentando negar a existência do aquecimento global e das mudanças climáticas. Mas a ciência tem um elevado nível de consenso de que nós estamos diante de uma realidade que é irreversível. Quando eu falo em mitigação, eu falo no planejamento de ações que sejam pactuadas com a nossa comunidade, de como nós vamos diminuir os efeitos destes acontecimentos aqui na comunidade de São Lourenço do Sul. +
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