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  • Rodrigo Seefeldt

LEMBRANÇAS DE MINHA AVÓ: O AMOR NÃO SE ESQUECE




A vida andava conturbada, na verdade poderia se afirmar que naquele momento eu estava apenas sobrevivendo. O dia passava voando, talvez até sem tempo de observar o quanto era importante se estar vivo.


A batalha diária para arrecadar o sustento da família era algo fundamental na vida. Mas será que valeria a pena viver dessa maneira? Sem mesmo dar valor aos pequenos prazeres da vida? Foi respondendo a essa questão que dominava meu pensamento e coração que passei a aproveitar cada período do dia. Seja para cultivar o amor ou até mesmo para restabelecer sentimentos que provocassem lembranças na minha querida avó paterna que sofria do famoso Alzheimer.


Uma doença que afetava a memória e por consequência, fez esquecer-se de momentos e principalmente de presenças. Nessa situação me perguntava como não desacelerar um pouco para aproveitar os momentos da vida com uma pessoa amorosa e que tinha um coração de ouro? Ela até poderia esquecer-se de mim, mas eu sempre seria seu neto preferido.


Então a vida passou a ter outro sentido. Todo chimarrão tinha gosto de gargalhada, todo meio dia tinha sabor de infância, cada entardecer tinha uma piadinha sobre sua beleza. E todo problema tinha uma solução no pensamento da minha avó.


O tratamento dela exigia paciência, adaptação e muita calma. Arisco-me a dizer que em muitas situações, exigia mais humor do que qualquer outro sentimento ou pensamento. Afinal toda piada e história que eu lhe contava, aumentava um pouco, tornando-a sempre a parte mais linda do conto.

Diariamente estava com ela, buscando levar apenas os sentimentos bons. Na minha chegada já me abria um belo sorriso e os olhos brilhavam. Eu não perdia a oportunidade, contava-lhe uma piada e falava de rapazes do passado (que nem sei se estão vivos ou de fato existiram) relatando que mandavam beijo a ela, fazendo ela se envergonhar e soltar uma boa e alta gargalhada.


Um belo dia, chego a sua casa e demonstro preocupação por estar muito gordo. Ela prontamente me acolheu e tentou me consolar. Eu sentando ao seu lado, já que não caminhava sozinha, ela prontamente me diz:


- Não estás gordinho, meu netinho! Apenas estas assim fofinho, pois quando eras pequeno a avó te fazia todas as coisas boas que gostavas de comer.


Prontamente deu um sorrisão e me lembrei que talvez senão tivesse desacelerado a vida um pouco, estaria perdendo momentos como estes, em que juntos lembramos a infância e o amor que sempre recebi da minha querida vó, que partiu no mês de agosto com 75 anos, sem nenhum fio de cabelo branco, deixando saudades, amizades e lições de vida, que realmente o amor e o afeto não se esquece.






Rodrigo Seefeldt é condutor local do Caminho Pomerano, Bacharel em Desenvolvimento Rural, Fundador do RuralidadesSul e integrante do CEL – Centro de Escritores Lourencianos.











Rodrigo Seefeldt é condutor local do Caminho Pomerano, Bacharel em Desenvolvimento Rural, Fundador do RuralidadesSul e integrante do CEL – Centro de Escritores Lourencianos.




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