A trajetória de um campeão: do início no Brasil ao reconhecimento na Itália
- Sheila Kunha
- 23 de jun.
- 5 min de leitura
Início da carreira
Quando e como você entrou para a modalidade? O que te atraiu no boxe?Iniciei a treinar boxe em 2001, eu sempre gostei de praticar esportes assim como várias crianças brasileiras. No início, eu queria ser jogador de futebol, mas iniciei a treinar boxe em uma academia da minha cidade e me apaixonei pela modalidade.
Qual foi sua primeira luta profissional? Quais lembranças (emocionais, técnicas) você guarda desse momento?
Fiz minha primeira luta profissional pela (ANIB) Associação Nacional e Internacional de Boxe, em 05/10/2005.Para mim, marcou muito minha história no boxe, porque iria ter uma disputa de título baiano na academia que eu treinava. Faltando poucas semanas para a luta, o atleta desistiu e o treinador me fez a proposta de disputar no lugar do atleta que desistiu. Eu aceitei de imediato kkk.Foi uma luta muito dura — até hoje tenho cicatrizes no rosto dessa luta — mas me orgulho muito delas, porque me tornei campeão baiano vencendo a luta por ponto.
Vida na Itália (7 anos)
Por que a escolha pela Itália? Houve alguma oportunidade específica que te levou para lá?Sim, meu filho. Fui para Itália para estar próximo ao meu filho. Ele nasceu na Itália, e eu preferi ir e ficar ao lado dele para acompanhar e ajudá-lo em seu crescimento.
Como foi a adaptação ao estilo de luta, equipe de treino e à cultura italiana? E ao clima e língua?
Me adaptei rápido porque eu já estava acostumado com o frio europeu por já ter viajado por vários países europeus para lutar representando a (ANIB).Chegando lá, resolvi entrar em uma academia para treinar e manter meu corpo em forma. O treinador Giacomo Rosa, que é um treinador na Itália, me chamou para fazer algumas lutas. No início eu não queria, porque meu pensamento era só treinar para manter meu corpo saudável, mas acabei aceitando.
Você pode citar algum momento marcante na carreira durante sua passagem pela Europa? Eventos, vitórias ou desafios que te marcaram?
Poderia citar vários momentos, mas como minha história sempre foi história de superação, prefiro falar sobre o que me fez parar um pouco com o boxe quando eu cheguei na Itália.Quando eu saí daqui do Brasil para Itália, eu já tinha um problema de saúde chamado hipotireoidismo, o que me dificultava muito meu desenvolvimento durante a luta. Minha equipe de treinamento e empresário na Itália fizeram o possível com os tratamentos para que eu pudesse voltar aos rings 100% curado. Fiz tratamento com os melhores médicos na Itália nesse tipo de doença, mas infelizmente o tratamento demoraria para que eu pudesse voltar aos rings.E por conta da idade resolvi dar um tempo com lutas, viver treinando e uma vida normal. Hoje estou curado, graças a Deus e a eles, que Deus colocou nessa fase da minha vida que foi complicada. Isso marcou muito minha história no boxe e na Itália.Em 2024 fui homenageado em um grande evento na Itália pelos meus feitos no boxe e por minha história de superação.
Trajetória esportiva
Qual seu recorde no ranking? Como você analisa esse histórico?
São 57 lutas, 36 vitórias.Eu vejo isso como uma grande luta para conseguir chegar o mais alto possível na minha carreira no boxe, mas que infelizmente, por estar ao lado de algumas pessoas que só pensavam em ganhar migalhas no boxe, acabou me atrapalhando um pouco. Mesmo assim, segui em frente junto com o presidente da (ANIB), o senhor Admilson Vasconcelos da Cruz.
Qual luta você considera a mais memorável – seja pelo adversário, pela forma de vitória ou pela importância no ranking?Meu título mundial pela (WBU).
Como você evoluiu tecnicamente durante esses anos na Itália? Houve mudança no estilo ou abordagem estratégica?Sim. Eu procurei adaptar meu estilo de velocidade nos golpes e ao esquivar dos golpes com a técnica de golpear duríssimo dos italianos, que têm uma pancada muito forte, e de lutar com a guarda mais fechada. Deu certo kkkk.
Brasil depois de 7 anos
O que te trouxe de volta ao Brasil depois de tanto tempo? Está apenas visitando ou pensa em permanecer por aqui
Duas coisas me fizeram vir ao Brasil: visitar meus parentes e amigos — que eu já estava com muitas saudades — e resolver alguns documentos com o presidente de Boxe Admilson Vasconcelos.
Como foi reencontrar sua família, amigos e colegas de treino depois desses anos fora?Está sendo maravilhoso rever todos eles. Faltam alguns, mas como tem pouco tempo que cheguei, já já consigo rever todos. Dá vontade de ficar ou levar todos eles na mala kkkk.Mas pra um sonhador, como eu, tem que pagar um preço para alcançar seus objetivos. Mas com fé em Deus dará tudo certo.
O que mais te surpreendeu ao voltar? Mudanças na cena da luta, na cidade, no estilo de vida...?O estilo da cidade. Sobre o cenário das lutas aqui na minha cidade, pelo pouco que eu vi, continua o mesmo.
Está aproveitando esse momento para treinar, lutar ou compartilhar sua experiência com outros atletas por aqui?Penso em fazer essas coisas todas. Como só tem três dias que cheguei, estou visitando os parentes, mas não posso parar de treinar e seguir em frente.
Você sente que o Brasil ainda é parte dos seus planos de carreira — seja como lutador, treinador ou mentor?Sim, sim. Eu penso em voltar para o meu país, sim. No momento não penso o que fazer quando voltar, nem penso em voltar por esses tempos.
Objetivos e expectativas
Quais são seus próximos planos de luta no Brasil?Penso em lutar no Brasil e fazer algumas lutas lá fora para encerrar minha carreira com chave de ouro.
Como você enxerga o cenário do esporte de combate hoje no Brasil, especialmente em comparação com a Europa?
Vejo que está evoluindo novamente. Não vejo com bons olhos colocarem lutas de YouTubers como lutas principais em eventos que têm lutas de lutadores profissionais, com competências para encerrar o evento de forma brilhante e que passaram a vida treinando e se preparando.E, por questão de mídia ou dinheiro — não sei — deixam pessoas que nem treinam de verdade ofuscarem o brilho deles. Espero que você me entenda.Em relação à Europa, eu não vejo esse tipo de situação lá. O boxe está sempre em alta, apesar de que, para mim, o melhor lugar para evoluir no boxe é sempre os EUA.
Que mensagem quer passar aos fãs brasileiros que acompanharam sua trajetória fora e agora torcem pelo seu retorno?Digo a todos eles que estou resolvendo uns documentos. Se der tudo certo, retorno em breve aos rings. Torço muito para que dê tudo certo.
Reflexões pessoais
Se você pudesse voltar no tempo e falar consigo mesmo antes de sair do Brasil, o que diria? Eu diria: “Não vai ser fácil, mas Deus vai estar sempre ao teu lado. Então vai sem medo de nada.”
O que você acha que o boxe te ensinou, profissional e pessoalmente, ao longo dessa carreira internacional?
O boxe foi a minha vida. Todo meu jeito de ser hoje foi através dele, de uma certa forma.Então, se eu for te falar o que ele me ensinou em poucas palavras, eu digo sem sombra de dúvida, porque todos aqueles que conseguiram alguma coisa na vida e me conheceram pessoalmente falam sobre mim: uma pessoa de caráter, personalidade e determinada a vencer na vida.Isso é o que me define. Digo isso com o coração cheio de orgulho.
E para finalizar: ANIB — o que significa em sua vida?
Simplesmente o que me fez chegar até aqui.Lembro de inúmeras vezes que eu me sentia fraco de tanto tentar e falava com o presidente:"Eu estou pensando em parar com essa história de boxe. Eu não aguento mais correr atrás de patrocínio, não aguento mais não ser valorizado pelos feitos que eu faço."Ele sempre me deu conselhos para não parar, seguir em frente, que a hora certa iria chegar...Hoje sou respeitado dentro e fora do Brasil pela minha história de superação e garra.

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