top of page
Edilberto Luiz Hammes

A história da Sociedade Recreativa Sete de Setembro


A hoje denominada Associação Cultural Sete de Setembro - há algumas décadas atrás conhecida como Sociedade Recreativa Sete de Setembro ou coloquial e carinhosamente apenas como “Sete” - completou oficialmente seu centenário de fundação a 12 de janeiro de 2020.


No entanto ela não começou com essa denominação e a data exata de sua fundação, infelizmente, não pode ser respondida com exatidão, porque todos os documentos, atas, fichários, cadastros, enfim, o dia, mês e o ano de sua própria fundação, foram literalmente varridos da história na segunda década do século 20.


O que se sabia, apenas, era sua denominação original no idioma alemão: Schützenverein Germania (Sociedade dos Atiradores Germânia). Há poucos anos, tive o privilégio de ser agraciado pelo colega médico e amigo Dr. Fernando Reissig Nickel com um emblema metálico - que pertencera a seu pai, o saudoso e também amigo, senhor Wilhelm Nickel, que durante muitas décadas fora o mais conhecido relojoeiro de São Lourenço do Sul - em forma de cruz de malta.


Nessa preciosidade histórica estão gravadas palavras (Schützen Verein Germania São

Lourenço) e uma data (19-4-908). Teria sido, finalmente, descoberta a data de fundação da Sociedade dos Atiradores? 19 de abril de 1908?


Ou essa seria apenas a data em que o artista (provavelmente o fotógrafo alemão residente em Porto Alegre, Otto Schoenwald, que andava pelo município nessa época fazendo inúmeras fotografias) fez a gravação? O que mais restou, transmitida oralmente, foi que existiu a sociedade “Schützenverein Germania”, algumas fotos guardadas por descendentes de sócios, e um único documento assinado por alguns associados datado de 5 de novembro de 1917, tendo como ordem do dia a mudança do nome da sociedade. Por essa época, desenvolvia-se a Guerra Mundial (entre 1914 e 1918), com encarniçadas batalhas nas trincheiras da Europa entre países antagônicos, estando de um lado a Alemanha, berço dos imigrantes de nossa Colônia.


Como o Brasil, a exemplo do que sucederia em 1942 na Segunda Guerra Mundial, por forças políticas externas, foi obrigado a ingressar no bloco contra a Alemanha em 1917, todos os descendentes originários desse país e seus bens sofreram consequências, muitas vezes de forma brutal.


E isso se refletiu também nas entidades criadas e frequentadas por eles, como foi o caso de nossa Sociedade dos Atiradores. O curioso é que, como sócios, havia também muitos amigos descendentes de portugueses e brasileiros que aqui residiam e que se divertiam na sociedade que oferecia a eles o jogo de bolão, tiro-ao-alvo e alegres e concorridos bailes.


Mesmo assim, o terreno onde se situava a Sociedade dos Atiradores, Germânia e suas primitivas benfeitorias – no mesmo lugar em que se situa até hoje a Associação Cultural Sete de Setembro – foi confiscado pelo governo brasileiro em 1917, dando lugar ao Tiro de Guerra nº 237. O traumático fim de uma entidade que tinha como finalidade a diversão de

seus sócios foi, na verdade, uma retaliação contra o nome alemão da sociedade e contra tudo o que fazia lembrar o “país inimigo”.


Na época foi decidido pelas autoridades brasileiras que, se fossem removidos esses empecilhos (tudo o que lembrasse a Alemanha), nada proibiria de continuar uma entidade recreativa com os mesmos sócios e as mesmas diversões, principalmente se sua denominação passasse a ser claramente nacionalista, o que aconteceu com clubes semelhantes em todo o Brasil. Os sócios, então, decidiram: “Sete de Setembro”, o mais sugestivo nome que falava de um Brasil independente, seria escolhido para designar o mesmo clube, que deveria ser fundado de novo, sendo necessário, no entanto, esquecer seu passado.


Assim, em seguida aos anos sombrios da Primeira Guerra, os mesmos associados que, somados, eram dezenas, se cotizaram, comprando do governo federal, por pouco mais de seis contos de réis, o mesmo terreno e benfeitorias que algum dia já haviam sido seus, e resolveram fundar a 12 de janeiro de 1920, a Sociedade Recreativa “Sete de Setembro”!


Alguns dias depois da fundação, mais precisamente a 16 de março de 1920, foi lavrada pelo notário Antônio Rainério dos Passos uma escritura pública de compra e venda: a “Sete”, por intermédio de seu primeiro presidente, Max Schröder – na ocasião representada por dois diretores, Sebastião de Carvalho Hubrig e Moacyr Ferreira – recomprava do Tiro 237 o seu próprio terreno com duas casas e benfeitorias, pelo preço de “seis contos, 147 mil e 120 réis”! Entre 1920 e 1924 todos os esforços foram concentrados em favor da construção de um grande salão de festas.


E de fato, apenas quatro anos após a fundação dita oficial, abnegados sócios liderados pelo presidente Max Schröder e Augusto Nickhorn, inauguraram o salão de baile, na época – como ainda hoje – um fantástico prédio de alvenaria com assoalho de tábuas corridas, tendo sido escolhido como ecônomos o casal Jacob e Herminia Schneid (meus avós maternos) que, com suas três filhas (minha madrinha e tia Adela - que guardou e me presenteou cerca de seis décadas depois com o antigo emblema da Sociedade dos Atiradores - tinha 14 anos de idade e minha mãe, Erna, tinha 11 anos) e um filho pequenino, passariam a residir em acomodação própria anexa à sociedade. A inauguração da grande sede nova da Sociedade Recreativa Sete de Setembro , um magnífico salão, teve lugar no dia 25 de dezembro de 1924, às 20 horas.


Faziam parte da comissão dos festejos, como já vimos no artigo anterior, as senhoras Ilsa Eyler, Herminia Ziebell, “Clarinha” Baumgarten, “Mariquinha” Russo e Olga Soares; e os senhores Max Schröder, Guilherme Timm, Ernesto Nickhorn, Caro Mendes e Carlos Helms Filho.


Nomes como Rúdi Nickhorn, Alfredo Kroll, João Christ (esse em 1933, quando foram publicados os primeiros estatutos), Moacyr Ferreira, Guilherme Gehrke, Dr. Pio Ferreira, Euclydes Vargas e Albino Ziebell sucediam-se como presidentes entre 1929 e 1943. Em 1944 o Dr. Edison Nunes de Campos foi presidente, ocasião em que foram criadas sua bandeira e seu atual brasão.


Sucederam-lhe Augusto Tomaschewski, Alfredo Born e Antônio Jesus dos Passos que tomou a si a iniciativa de construir, entre novembro e dezembro de 1949, o então revolucionário piso de parquê, ainda desconhecido dos lourencianos, considerado como sendo o melhor piso para danças que jamais existiu em São Lourenço do Sul...



Acervo ELHammes Schützenverein Germania 1911.














Emblema da Schützenverein Germania com ACERVO mais antigo.















Emblema da Schützenverein Germania com ACERVO.


















Commentaires


bottom of page